Música instrumental brasileira se despede de Paulo Moura, mestre do choro, samba e jazz
A música instrumental brasileira acaba de perder um dos seus maiores nomes. Morreu, no fim da noite desta segunda-feira, o saxofonista e clarinetista Paulo Moura, de 77 anos, vítima de câncer no sistema linfático, que já o acometia há anos.
Compositor e arranjador de choro, samba e jazz, Paulo Moura tocou com Ary Barroso, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Milton Nascimento e Sérgio Mendes. Para Paulo Moura, não existiam fronteiras. Com seus clarinete e saxofone, o músico passeou com talento por muitos gêneros e formações. Tocou tanto em orquestras sinfônicas quanto de gafieira ou grupos regionais, rodando o Brasil e o mundo com sua arte.
De uma família de músicos, Moura começou a estudar piano aos 9 anos, passando quatro anos depois para o clarinete. Ele tinha 17 anos quando a família se mudou para o Rio, radicando-se na Tijuca. Paulo Moura ingressou na Escola Nacional de Música estudando teoria, harmonia, contraponto, fuga e composição, enquanto, por pedido do pai, também aprendeu o ofício de alfaiate. A música falou mais alto e, em meio aos estudos – incluindo mestres como Guerra Peixe, Moacir Santos, Paulo Silva e Maestro Cipó -, começou a atuar em bailes e gafieiras. Junto a amigos da Tijuca como João Donato, Bebeto Castilho, Pedro Paulo, Everardo Magalhães Castro, também formou um grupo de jazz influenciado pelo som da West Coast dos Estados Unidos.
Ainda nos anos 1950, começou a viajar o mundo, participando do grupo de Ary Barroso e de Zacarias e sua Orquestra. Nos estúdios, estreou num disco da cantora Dalva de Oliveira. Em 1957, fez seu primeiro trabalho solo, "Paulo Moura e sua Orquestra para Bailes". Ainda este ano, fez uma gravação de "Moto perpétuo", de Paganini, que virou um clássico instantâneo. Dois anos depois, gravou "Paulo Moura interpreta Radamés", com alguns temas escritos por Radamés Gnatalli especialmente para esse disco.
Sempre trafegando entre a música clássica, o jazz e a música popular, o clarinetista e saxofonista também foi um assíduo frequentador do Beco das Garrafas, o reduto em Copacabana que concentrava os principais bares e clubes noturnos da bossa nova e do samba-jazz, no início dos anos 1960. Como instrumentista e arranjador, trabalhou com artistas como Elis Regina, Milton Nascimento e Sérgio Mendes (com este, no grupo Bossa Rio, participou em 1964 do clássico álbum "Você ainda não ouviu nada", um marco do instrumental brasileiro). A partir do fim dos anos 1960, liderou seus próprios grupos, gravando discos como "Fibra", "Mistura e manda", "Confusão urbana, suburbana e rural", que também fizeram escola no instrumental brasileiro, fundindo elementos do jazz com o choro e o samba.
Incansável, apaixonado pela música, nos anos 1980 dirigiu por dois anos o Museu de Imagem e do Som (MIS), no Rio de Janeiro. As duas últimas décadas foram de muito trabalho, excursionando pelo mundo e gravando discos.
Foram, aproximadamente, 35 discos gravados ao longo de sua vida artística. O compositor tem 18 obras e 360 Fonogramas cadastrados no sistema de Distribuição do Ecad. Veja abaixo as músicas mais executadas do autor.
1 – Dia do Comício
2 – Fibra
3 – Ao velho Pedro
4 – Rala Coxa
5 – Carimbo do Moura
6 – Dois sem vergonha
7 – Sopapo
8 – O assalto
9 – Domingo Orfeão
10 – Pixinguinha no Arpoador