Quando o coração está deserto – artigo de Fernando Brant
Sou um homem em busca da felicidade. Se não for possível, me contento com paz, harmonia e tranquilidade. Vocês dirão, mas esse cara é maluco, quem não quer esse ambiente em sua existência? No geral sou bem aquinhoado em meus desejos, mas alguns dias, algumas pessoas, algumas situações me tiram o sossego e chegam mesmo a formar um turbilhão em minha mente, me perturbam.
Será que ainda vale a pena lutar contra a ignorância, a mentira e avidez de algunsque andam em nosso redor? Confesso que, por momentos, o desânimo toma conta de mim. O que existe de gente que só sabe falar, imperiais em suas convicções, e nunca ouvem e prestam atenção no que lhes é dito. Arrogantes donos da verdade, seres que se julgam superiores mas não passam de medíocres participantes de uma farsa.
Eu preferiria estar falando de pessoas que eu gosto, que amo e me alegram. Ou dobaile que a seleção deu no tic-tac dos espanhóis, no domingo de festa em que orelógio deles enguiçou. Eu gosto da vida que é gol, abomino as bruxas de espíritopesado e maldito que frequentam salões elegantes da música popular brasileira.
Reparem, por outro lado, que ficou fora de moda defender o direito e a Constituiçãocidadã de 1988. Eles não se importam, ou porque não viveram os tempos militaresou porque querem a sua ditadura, que se rasgue a maior conquista de nossa geração.
Um senador acaba de sugerir, na televisão, que não importa se uma reforma política, que não estava nos cartazes das manifestações de rua, seja aprovada após o prazo dado pela Constituição. Faz- se uma emenda e se resolve a questão. Ô louco, há cláusulas irremovíveis na Constituição e essa é uma delas. Pensam que podem fazer com a bíblia do cidadão o que quiserem. Não podem e não farão porque o Brasil não é a casa da mãe Joana. Entre o palácio e a praça, o palácio quer que a praça, o povo, só diga sim ou não.
Os tempos mudam e as pessoas também. Mas o direito, a justiça e a dignidade detodos – garantidos pelo capítulo constitucional dos direitos e garantias individuais,são permanentes. Não será o poder econômico, muito menos a vaidosa impressãodaqueles que se pensam donos do mundo, que irá apagar o que se conquistou comtanto amor dos brasileiros com o nosso país.
Escrevi há tempos uma frase para uma gravura de Galilleo Galilei, criada por Gianfranco Cerri, para uma campanha dos professores universitários mineiros: “o poder não tem o poder de esconder eternamente a verdade.”
Viva a inteligência, viva a vida. Pronto: desabafei. Volto à festa e à alegria.