É preciso que mais mulheres ocupem o mercado da música
- Artigo da superintendente do Ecad, Isabel Amorim, publicado no jornal Folha de S. Paulo no dia 22/06/2024
No ano passado, o Ecad, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, distribuiu R$ 65 milhões em direitos autorais de execução pública para mulheres. Entre elas estão nomes como Rafaela Miranda, Isabella Resende, Lari Ferreira e tantas outras. Essas três que eu citei são autoras de músicas de sucesso como “Beijo de Glicose”, gravada pela dupla Diego e Vitor Hugo, e “A Culpa é Nossa”, com Maiara e Maraísa.
Em 2023, foram mais de 29 mil mulheres contempladas com o pagamento de direitos autorais, o que representa apenas 10% da quantidade total de beneficiados no ano passado. Também em 2023, a distribuição total foi de R$ 1,3 bilhão, sendo que, dos valores destinados às pessoas físicas, os homens receberam 95% desse total.
Todos esses valores e esse trabalho só foram possíveis de acontecer por causa de uma mulher, Chiquinha Gonzaga. Aqui no Brasil, ela foi a precursora na defesa dos direitos autorais. Então, se as mulheres receberam R$ 65 milhões no ano passado, foi porque uma mulher reivindicou essa remuneração para os autores.
Ao longo dos anos, as mulheres vêm trazendo uma contribuição inegável ao mercado da música, moldando e influenciando a indústria de maneiras significativas. Mulheres como a própria Chiquinha Gonzaga, Emilinha Borba, Elis Regina, Elza Soares, Marília Mendonça – só para citar alguns nomes de gerações diferentes e estilos musicais diferentes, mas cada uma com uma trajetória de impacto nesse mercado.
Outras mulheres da atualidade, como Marisa Monte e Giulia Be, também deixam sua marca nesse mercado, tanto pelo lado artístico quanto pelo engajamento nas discussões atuais. Elas duas estiveram recentemente em Genebra, em um evento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a OMPI, para falar dos impactos da inteligência artificial nos direitos autorais. Há muitas outras mulheres talentosas, inteligentes e dedicadas nessa indústria, mas muitas vezes sem voz e sem acesso aos meios de produção, sem representatividade.
Isso acontece não só no meio artístico. Na indústria da música, assim como em tantos outros segmentos, os homens ainda têm o poder nas mãos e nas tomadas de decisão. Eu sou superintendente do Ecad há quase cinco anos, e esse cargo é ocupado por mulheres há mais de 25 anos. Tenho algumas colegas em posições de comando em suas respectivas empresas, como Leila Oliveira, presidente da Warner Music Brasil; Cris Garcia Falcão, da Virgin Music Group; e Roberta Medina, da Rock World, que organiza Rock in Rio e The Town, mas sei que essa liderança feminina é uma exceção no mercado, infelizmente.
Por esse motivo, eventos como o WME, o Women’s Music Event, são tão importantes para o nosso mercado. É preciso jogar luz nessas questões, debater o problema e pavimentar o caminho para que mais mulheres possam ocupar posições de destaque no mercado musical, onde quer que elas queiram, promovendo a igualdade de oportunidades e incentivando a diversidade.
A pluralidade de vozes e de perspectivas leva a uma produção musical mais rica e inovadora. É responsabilidade de todos – artistas, produtores, executivos e consumidores – promover um mercado da música mais inclusivo, onde as mulheres possam prosperar e contribuir plenamente com seu talento e criatividade.