A música é fundamental para animar qualquer festa junina, mas muitas prefeituras e organizadores de eventos investem na contratação de artistas famosos para atrair público e não respeitam os direitos dos autores das músicas que serão tocadas. Esse é o caso das festas de São João de Caruaru (PE) e de Campina Grande (PB), dois dos principais eventos de São João do Brasil, que insistem em não realizar o pagamento dos direitos autorais ao Ecad há muitos anos.
Autodenominada como “o melhor São João do mundo”, a festa de Campina Grande nem de longe mereceria este título, pois a prefeitura local tem um débito com os autores há mais de 15 anos. Este ano, a organização do evento está sob responsabilidade da empresa Aliança Comunicação e Cultura, que também não efetuou o pagamento da retribuição autoral.
O São João de Caruaru não fica muito atrás quando o tema é o desrespeito aos criadores das músicas. Desde o ano 2000 não há pagamento dos direitos autorais das canções que animam o evento, ou seja, são 17 anos de festa, com incremento no turismo e comércio da cidade, mas sem a devida remuneração aos autores pelo seu trabalho de criação.
É desta forma que duas importantes cidades do Nordeste tratam a cultura e a música brasileira: com total desrespeito aos principais responsáveis por dar início a toda uma cadeia produtiva. Muitos autores consagrados do Nordeste e de sucessos sertanejos, que vivem exclusivamente de suas criações, não serão mais uma vez remunerados pelas suas obras.
– Músicas mais tocadas em shows de festa junina em 2016 no Nordeste:
1- Olha pro céu (Gonzagão/José Fernandes de Carvalho)
2- Sosseguei (Thallys Pacheco)
3- Aquele 1% (Benício Neto/Vinícius Poeta)
4- Eu só quero um xodó (Dominguinhos/Anastácia)
5- O xote das meninas (Zé Dantas/Gonzagão)
6- Asa branca (Humberto Teixeira/Gonzagão)
7- Pagode russo (João Silva/Gonzagão)
8- Tareco e mariola (Petrúcio Amorim)
9- Assiste aí de camarote (Barros Neto/Jota Reis)
10- Numa sala de reboco (José Marcolino/Gonzagão)
11- Sabiá (Zé Dantas/Gonzagão)
12- Espumas ao vento (Accioly Neto)
13- Qui nem giló (Humberto Teixeira/Gonzagão)
14- É proibido cochilar (Antônio Barros)
15- Fiquei sabendo (Caninana do Forró/Hélio Rodrigues)
16- Riacho do navio (Zé Dantas/Gonzagão)
17- São João na roça (Zé Dantas/Gonzagão)
18- Agora é pra valer (Marília Mendonça)
19- A dama e o vagabundo (Renato Moreno/Rodrigo Mell)
20- Amiga parceira (MC Menor/DJ Dash/DH)
Em depoimento à campanha “Vozes em defesa do direito autoral”, autores e herdeiros falam da importância a retribuição autoral em suas vidas:
“Você que mexe com festa, com rádio, com TV, procure fazer isso da melhor maneira possível. E o mais rápido possível também, para que eu posso receber o que é meu por direito. Direito autoral não é uma brincadeira”. Dorgival Dantas
“Nos festejos juninos, a Falamansa chega a fazer cinco shows em um dia e aí quando chega no final do mês você vê que nem todos os shows foram computados e levados ao Ecad pelos contratantes, pelos organizadores de shows. Isso é frustrante para o artista”. Tato
“Antes do Sorocaba cantor nasceu o Sorocaba compositor e esse incentivo do direito autoral me ajudou de forma maravilhosa para que se desse o start na carreira de Fernando e Sorocaba. A cultura musical brasileira precisa desse tipo de incentivo. Eu agradeço às pessoas que pagam de forma correta ao Ecad. Para aquelas que ainda não estão pagando, passem a pagar, porque você estará investindo na cultura musical do nosso país”. Sorocaba (da dupla Fernando e Sorocaba)
“O maior reconhecimento à importância do trabalho do meu pai é o pagamento dos direitos autorais das suas obras. Muitos não sabem que eu, como herdeira, recebo os direitos autorais das músicas do meu pai. Mas o grande problema para a minha família continua sendo a inadimplência, especialmente no Nordeste. Pague o direito autoral, pois assim você vai estar contribuindo para que a obra de Luiz Gonzaga continue tendo o reconhecimento que ele merece”. Rosinha Gonzaga, filha de Gonzagão