Manno Góes estreia na literatura com ‘Aracajé Bour Mecier’
e ‘Dani’. Essas são algumas das músicas que já fizeram você dançar ou cantar o
refrão de forma repetida, afinal, são hits que embalam o espírito festeiro e
romântico de, pelo menos, duas gerações na voz de vários artistas. Mas a
autoria desses sucessos é dada ao Manno Góes, baixista e um dos
compositores mais gravados da Bahia. Mas não só. Ainda é Sócio-fundador da
banda Jammil e Uma Noites, um dos criadores e cantores do movimento Alavontê,
membro recém empossado do Conselheiro Fiscal da União Brasileira de
Compositores (UBC) e escritor.
seguir, ele fala sobre literatura, música, influências, internet, direitos
autorais e processo criativo. Acompanhe!
é o seu processo de criação com tantas atividades?
– Tudo é possivel diante da minha decisão de me afastar da estradas com o
Jammil. Hoje eu participo bem menos do dia a dia do Jammil e, ao mesmo tempo,
continuo como sócio da empresa e participando das decisões. A banda vai gravar
um DVD ao vivo agora e estou acompanhando as composições e as diretrizes, só
que isso me dá mais tempo e mais liberdade também de criar em outros ambientes.
A UBC, já sou sócio, é uma dos nove órgãos de arrecadação de direitos autorais. Sempre fui muito
atuante nesta questão de direitos
autorais. Sempre estive perto das pessoas certas para isso. Abri uma editora em
sociedade com Rodrigo Moraes, que é advogado de direitos autorais aqui na
Bahia, hoje um dos maiores do Brasil. Então, estive muito perto desse
aprendizado e tive muita curiosidade e por ter organizado muito bem minha vida
como compositor e arrecadador de direitos autorais, participando e pedindo
melhorias e por conhecimento de causa, me tornei muito próximo das pessoas da
UBC e veio convite para participar da nova chapa da eleição para o novo grupo
gestor, que vai ficar até 2019. Me senti privilegiado, porque é a primeira vez
que um baiano está lá dentro. Vou uma vez por mês para as reuniões do conselho
fiscal. O trabalho já começou com a implantação de um site muito moderno, onde
todas as informações sobre direitos autorais estão disponiveis.
– Qual é hoje o panorama da arrecadação de direitos autorais no Brasil?
– Além do desconhecimento, outra coisa que acontece muito é a suspeita
sobre como isso é feito, da falta de transparência da forma como os direitos
são recolhidos e distribuídos para os autores. De fato, é um sistema muito
complicado mesmo, mediante à situação geográfica do País. É difícil as pessoas
compreenderem que existe uma análise feita em formato de tiragem, como uma
pesquisa de Ibope, por exemplo. Não se entrevista todos os brasileiros, mas uma
boa fatia de perfis diferentes para se ter uma amostragem do que é o real. Não
tem como se saber exatamente o que se tocou na noite de sexta-feita em todos os
bares, hoteis e restaurantes em todas as cidades do Brasil. Não tem como
fiscalizar tudo, então, é feito por amostragem com as músicas mais executadas,
dos atores mais executados e isso determina os valores fracionais. Hoje em dia,
é muito melhor por conta da tecnologia. Os recursos são muito mais efetivos e
contribuem para que haja mais transparência e qualidade no serviço de captação
mesmo. A UBC é uma empresa privada – e as pessoas confundem muito achando que é
um órgão do governo. A Ecad é um órgão privado, feito e
constituído pelos autores, assim como os órgãos de arrecadação. Essa questão do
dinheiro público e do privado confunde muito as pessoas. Muitas acham que tem
de haver fiscalização por parte do governo, eu sou um dos que pensam ao
contrário da linha do "Procure Saber", que quer colocar um órgão do
governo para fiscalizar a Ecad.
Acho isso um atraso, um erro, principalmente pelo inchaço público. Já outras
pessoas acham que isso é uma forma de se fiscaliaz. Se se quer fazer uma
fiscaizaão em um órgão privado, faz-se uma auditoria, como em qualquer empresa
deveria ser feito. Este é o meu posicionamento e de várias pessoas, mas não de
todos os compositores. Também já foram aprovadas novas diretrizes da lei sobre
a forma de distriuição. Há hoje um momento de mudanças significativas e de
contradições, porque pelas mudanças que foram feitas ainda está muito confuso e
todos os órgãos estão se adequando à nova realidade.
– E sobre a internet, ainda existe resistência e medo por parte dos
compositores?
– Isso é uma mudança e já vem, há um bom tempo, sendo estudada sobre a
melhor forma de se pagar aos autores. Por ser um instrumento abstrato, as
pessoas não entendem a composição como um bem, algo material que tem seu valor.
É curioso que, às vezes, a gente vai fazer show e as pessoas dizem: "ah,
vai ter de pagar Ecad".
Claro, paga o palco, o som, o técnico, o músico, não vai pagar a essência da
festa, que é a música? Então essa valoração que se dá à música ainda é
interpretada aqui no Brasil de uma forma ingênua. A internet é um ambiente
completamente novo e que, neste momento de transição, já conseguimos grandes
conquistas. Teve acordo com o YouTube; o iTunes chegou de forma sensacional
para mostrar que as pessoas querem comprar aquilo que gostam e não só fazer
downloads suspeitos e arriscando a pegar vírus. As vendas virtuais hoje já são
significativamente maiores do que as vendas físicas. Este mês, pela primeira
vez, deu 60% de vendas virtuais e 40% de física. Houve negociações com as TVs a
cabo, como a Sky e a Globo. Outro ganho é o streaming, uma forma de adquirir
música sem fazer download, você paga a mensalidade e tem acesso. E já tem
muitos canais de streaming, como o Deezer, que pagam direito e atuam no formato
correto e legal. O streaming permite uma outra coisa muito boa que é você não
encher seu computador e celular, com arquivos pesados. Você tem a música à
disposição, mas não está dentro do seu aparelho.