Incipientes, podcasts aos poucos se organizam
Gênero ainda tem poucos – mas fiéis – adeptos no Brasil; associação conseguiu até fechar acordo com o Ecad
Ouvir podcasts pela primeira vez é descobrir um mundo novo dentro da web em que diversas pessoas de países variados compartilham interesses, opiniões e informações de um jeito completamente diferente. Essa descoberta é inesgotável e vale tanto os podcasters veteranos quanto aqueles que entraram há pouco tempo nesse cenário.
"Sempre me interessei por rádio e depois de ver os primeiros podcasts nos Estados Unidos, achei o máximo. Era uma mídia muito emocional, melhor para acompanhar do que os textos. Comecei a criar o meu por causa disso", diz o carioca Danilo Medeiros. No dia 20 de outubro de 2004 ele publicaria o primeiro episódio do Digital Minds. "Costumo usar o bordão: "o primeiro podcast do Brasil… eu acho"", brinca Medeiros. Foram pouco mais de 20 edições, até 2006, quando ele precisou se dedicar à vida profissional.
Outro podcaster que começou cedo foi curitibano Rodrigo Stulzer, que fez o Perhappiness, título referência ao neologismo criado pelo poeta Paulo Leminski. "Li sobre os podcasts em um site dos EUA. Comecei a baixar e vi que era isso que eu queria para o meu MP3 player. Escutar, como uma rádio, os programas que eu quisesse, na hora em que eu preferisse. E o melhor é que não existia nenhuma empresa por trás. Até cheguei a escrever um artigo sobre eles", conta Stulzer. O primeiro episódio foi "ao ar" no dia 3 de dezembro de 2004.
Para não deixar de citar, o podcast de Gui Leite também foi um dos primeiros no Brasil, publicado a partir do final de 2004 . Porém ele preferiu não conversar com a reportagem por razões pessoais. Todos os três tinham as notícias sobre tecnologia como tema principal.
Já no mundo da música, o programa ADD, do podcaster Maestro Billy (www.maestrobilly.com/podcast), nasceu praticamente de uma necessidade profissional. "Tenho um estúdio de música e, em 2005, um cliente me ligou e perguntou o que era podcast. Eu não soube responder e fui atrás. Três dias depois já estava com o meu no ar", conta o produtor musical, que faz um podcast voltado para o mundo da música.
O podcast do Caipirinha Appreciation Society , produzido por Mickey del Cueto (Mdc Suingue) e Kika Serra, dois brasileiros radicados em Londres, surgiu da sugestão de um ouvinte. "Já fazia o programa em uma rádio. A intenção com o podcast era multiplicar e agora temos ouvintes no mundo inteiro", diz Mickey. O programa surgiu da idéia de levar ao exterior música brasileira diferente dos grandes artistas da MPB. "É a cultura brasileira além dos clichês."
O QUE MUDOU?
A opinião entre os podcasters mais antigos é praticamente unânime. Os podcasts não vingaram para valer no Brasil. Houve um crescimento grande até 2006 e depois o assunto estabilizou. "Na minha visão o problema é a falta de internet banda larga no Brasil. Quem tem acesso discado não vai fazer o download de um episódio de 80 MB", argumenta Ricardo Macari, do podcast Código Livre.
Apesar de não ter ocorrido uma popularização de verdade, não faltam iniciativas nesse caminho. Rafael Portillo é funcionário dos Correios em Recife (PE), não tem internet em casa e, mesmo assim, acompanha cerca de 30 podcasts. "Eu queria fazer um blog com áudio, e foi quando descobri os podcasts", diz ele, que não se conteve em só fazer a sua própria página. Portillo criou um portal – ACORDO E LEGALIDADE
Depois de se envolver por completo com o mundo dos podcasts, Maestro Billy mobilizou dentro da Associação Brasileira de Podcasters (Abpod) um grupo de interessados em fazer um acordo com o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), órgão que regulamento o pagamento de direitos autorais, para legalizar o uso de músicas comerciais em podcasts pessoais. "É uma forma de respeitarmos quem produz a música", diz Billy. Hoje, é possível fazer um acordo diretamente com o órgão para o pagamento de uma UDA (ou R$ 42,51) por mês para usar as músicas. Já existem cerca de vinte podcasters que fizeram o acordo. "O interesse é criar a consciência da colaboração autoral", diz Márcio Massano, gerente de relacionamento da área de arrecadação do Ecad.